terça-feira, 24 de novembro de 2009

As doenças numa visão psicossomática


Muito se discute hoje em dia sobre as doenças e suas causas. No paradigma vigente na sociedade ocidental, a doença ocorre no corpo e é causada por agentes externos como bactérias, vírus, má alimentação, fatores ambientais, etc. A cura, dentro da abordagem alopática, dá-se através da eliminação destes agentes, considerando o ser humano quase como uma figura passiva ou um expectador da situação.
O desaparecimento do sintoma tornou-se a meta maior na medicina ocidental de forma que existem hoje milhares de medicamentos para os mais variados tipos de distúrbios. Se tivermos uma dor de cabeça, rapidamente a resolvemos com um analgésico qualquer. Uma gastrite tratamos com anti-ácidos e uma artrite com anti-inflamatórios. Existe um sucesso imediato imenso nessa abordagem, porém, nem por isso as doenças diminuem, pelo contrário, cada vez a ciência descobre novas doenças e de uma complexidade maior. È como se o nosso corpo insistisse em adoecer apesar dos esforços. A questão é: Por quê?
Dentro de uma outra abordagem, que é a Psicossomática, temos uma visão um pouco diferente da doença e dos sintomas. Em princípio, enxergamos o ser humano não apenas como um corpo e, sim, como uma totalidade que consiste na dualidade de um corpo material (físico) e imaterial (emocional e energético). Esta dualidade só é observada assim, separadamente, do ponto de vista didático, pois na vida elas são inseparáveis e um aspecto não poderia existir sem o outro, tal como a luz não existe sem a escuridão.
A partir desse conceito compreendemos que não é apenas o corpo físico que adoece, mas adoecemos na totalidade.
Observando a natureza, percebemos que tudo nela tem um propósito, um objetivo. Como seres naturais, nossa vida também obedece a essa lei maior. Nós temos um “porque” de estarmos vivos e a esse motivo chamamos de individuação. A individuação pode ser explicada pela evolução da nossa consciência. Desde o nosso nascimento estamos em processo de individuação e este processo natural determina nossa condição em vida até a nossa morte.
O caminho da individuação ou evolução não é linear e constante. Na vida passamos por diversos momentos de estagnação e paralisia dentro desse processo. Quer seja por fuga ou por ignorância, algumas vezes, simplesmente, paramos de buscar algo que nos faça sentido, que nos fale a “alma”. Inúmeras vezes nos debatemos em nossa consciência sobre o caminho que estamos tomando na vida e, não em raras ocasiões, nos pegamos tendo atitudes que nos desviam de nossos verdadeiros anseios. É nesse momento, quando insistimos em algo que não seja o caminho da individuação, apesar dos avisos que, teimosamente, desconsideramos como sonhos, tristezas inexplicáveis e insatisfações, que começam a aparecer os sintomas físicos.
Na abordagem psicossomática, todos os sintomas não são mais vistos como uma conseqüência do mundo externo e sim, como uma oportunidade de vivenciar no corpo (já que não foi possível a vivência na consciência) aquilo que necessitamos para dar sequência ao nosso processo de evolução individual.
Entender um sintoma sob esse ponto de vista requer um mudança profunda na forma de ver o mundo e a vida, pois o sintoma traz aquilo que nos falta ou aquilo do qual temos que abrir mão para continuar uma jornada verdadeira em relação a nós mesmos.
Vamos utilizar um exemplo muito comum hoje em dia. As alergias, sejam elas quais forem, tem uma simbologia muito interessante e não é à toa que no mundo moderno elas estejam tão freqüentes.
O nosso sistema imunológico é o responsável por determinar o que pode ou não “entrar” em nosso organismo. Ele é o responsável por combater inimigos como vírus e bactérias que invadem o corpo. Essa reação, obviamente, é fundamental para sobrevivência, porém o indivíduo que desenvolve um processo alérgico tem esse sistema de combate do organismo muito exacerbado a ponto de reconhecer, por exemplo, o pêlo de animais e pó doméstico como perniciosos a nossa saúde reagindo a eles formando um quadro alérgico. Porém, você já se perguntou que tipo de ameaça a nossa integridade física o pó ou o pêlo do animal causa? A resposta qualquer um sabe, ou seja, ameaça nenhuma.
Simbolicamente o sistema imunológico representa a agressividade, afinal de contas o seu papel é travar batalhas contra inimigos que coloquem em risco a nossa saúde. O exagero desse quadro muitas vezes é dado por agressividades reprimidas ou o seu oposto (tanto alguém que é incapaz de ser agressivo, independente da situação vivida ou alguém que agride a tudo e a todos gratuitamente, certamente, tem questões a desenvolver em relação a esse instinto). Uma vez que não é possível trabalhar essa questão no nível da consciência (psiquicamente) por incapacidade da própria pessoa em perceber essa realidade ou aceitar que é preciso mudar, o inconsciente precipita essa temática no corpo físico para que o indivíduo lide de forma concreta (fisicamente) com este problema.
A esta altura você deve estar se perguntando: e os remédios? O que acontece quando eu tomo um anti-alérgico para suprimir um sintoma alérgico?
A coletividade é a soma das individualidades, desse modo, a sociedade espelha o ser humano. Abordamos a pouco a tendência de nós, enquanto indivíduos, a acomodação, a fuga da mudança. Logicamente, o modelo de “cura” hoje vigente na sociedade (a supressão do sintoma, principalmente, através da alopatia) representa esta tendência. Assim sendo, a resposta para a pergunta acima é: provavelmente, o sintoma se agrave e você tenha que tomar uma medicação mais forte ou então você deixe de ser alérgico e desenvolva outro sintoma com relação ao sistema imunológico (ex: doenças auto-imunes).
Torna-se lógico, sob a ótica psicossomática, entender o porquê de tantas novas doenças e novos sintomas nos dias de hoje, você não acha?
Enfim, essa é uma visão diferente e um pouco mais profunda dos sintomas que estamos acostumados ouvir hoje em dia nas orientações dos profissionais de saúde ou nos meios de comunicação. O certo, porém, é que a doença faz parte da vida natural e da condição humana. Sempre foi assim, desde os primórdios e continuará sendo enquanto precisarmos desse mecanismo para a evolução. Podemos achar que ela é um inimigo e combatê-la ferozmente ou podemos entendê-la como uma conselheira, acatar seu ensinamento e buscar a mudança.
Como cada pessoa quer lidar com as suas doenças e seus sintomas é uma escolha individual.

Gisela Sousa
Fisioterapeuta especialista em Psicossomática e Acupuntura
CREFITO/5-RS 44277

Um comentário:

  1. Muito interessante....é bom sempre dar uma espiada por aqui!!! Sucesso na nova sede!

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